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percepção ambiental e desenvolvimento urbano-ambiental
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sexta-feira, abril 16, 2004

 

o enxaimel e a arquitetura "turística"

Um amigo de um lista sobre patrimônio (ICOMOS-Brasil) levantou algumas questões interessantes sobre a utilização da arquitetura "cultural" como mecanismo de marketing de cidades. É algo diferente, ao mesmo tempo, tanto das idéias da arquitetura vernacular, quanto das idéias do marketing de cidades (não confundir com planejamento estratégico sério). Este amigo destacou o seguinte trecho de um excelente artigo na VITRUVIUS de José Albano Volkmer, professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul:

"No caso da propaganda comercial para a expansão do turismo receptivo, muitas comunidades estimulam, em suas cidades, a produção hoje de uma arquitetura, que busca imitar, ou se identificar, com a arquitetura da região dos Alpes, por exemplo, ou da Suíça, Baviera ou da região mediterrânea na Europa. Ilusória, para uns, realista para outros, por estimular o crescimento do comércio, da indústria e do turismo receptivo, a denominada arquitetura de enxaimel de influência bávara vem sendo fomentada na região serrana do Rio Grande do Sul, no Vale do Itajaí em Santa Catarina, em Campos do Jordão em São Paulo, dentre muitos casos, como uma marca, um símbolo emblemático de um produto que está sendo vendido cada vez mais intensamente. Leis municipais de incentivos fiscais e urbanísticos têm sido aprovadas para estimular a construção de obras de arquitetura discutível, pela sua plasticidade falsificada sob a forma de pastiche. É uma verdadeira colagem, em nosso meio, de uma arquitetura que não é brasileira, nem afeita à nossa paisagem e aos nossos valores culturais. É tal a expectativa de alcançar o sucesso, através da criação de um ambiente urbano, arquitetônico e paisagístico com aparência bávara, suíça, austríaca, tirolesa, ou simplesmente alpina, que qualquer aproximação com o chamado estilo enxaimel europeu é suficiente para proporcionar a redução ou a isenção dos impostos sobre a propriedade, bem como os estímulos urbanísticos dos Planos Diretores para a intensificação da construção."

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Enxaimel (Fachwerk, que em alemão significa enchimento), é uma técnica de construção onde hastes de madeira compõem uma estrutura autônoma (framing), contraventada com peças inclinadas, cuja vedação é feita com alvenaria de tijolos de barro. A estrutura de madeira se apóia em alicerces de pedra ou tijolo, que isolam a madeira da umidade do solo. Nas construções mais rústicas a madeira é lavrada (e não serrada) e travada com pinos de madeira (e não com pregos e parafusos de aço). Nas paredes de vedação os tijolos de argila ficavam aparentes, mas são inúmeros os exemplares cobertos com reboco ou pintura. As portas e janelas, em duas folhas de madeira, são geralmente pintadas em vermelho nos caixilhos, e em verde nos planos maiores, que às vezes são inteiramente brancos. Em alguns casos, as folhas maiores trazem pinturas externas de guirlandas com pequenas flores.

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Esta técnica foi introduzida no sul do Brasil por imigrantes alemães no século 19. Edificações no chamado estilo enxaimel são hoje uma das principais atrações turísticas na região de colonização alemã no Brasil. O Vale do Itajaí em Santa Catarina, principalmente nos municípios de Indaial, Blumenau, Timbó e Pomerode, apresenta a maior concentração deste modo construtivo no continente americano. Quando os primeiros alemães chegaram ao Brasil, a arquitetura enxaimel já não era utilizada havia muito tempo, mas foi considerada a mais adequada para as condições encontradas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, permitindo edificações resistentes, baratas, rápidas e simples. Essa técnica já era conhecida pelos etruscos no século VI a.C., podendo ter iniciado até mesmo antes, talvez pelos egípcios ou povos da Mesopotâmia. O enxaimel trazido pelos imigrantes alemães no fim do século XIX, foi relativamente comum na Alemanha entre os séculos XVI e XVIII, onde consistia de construções quadradas ou retangulares, contendo muitas vezes requintes artesanais como madeiramento esculpido, floreiras trabalhadas e um sem número de adereços. Da chegada do imigrante até o enxaimel como nós o conhecemos, passaram-se diversas transformações. Inicialmente eram construídas casas com troncos roliços de palmito, sendo a cobertura com outra espécie de palmácea. O piso era de chão batido. A construção era pequena, apenas um abrigo provisório. Compunha-se de um único cômodo e uma cozinha primitiva em anexo. Numa segunda fase, essas edificações já aparecem com toda a sofisticação técnica do Fachwerk. A maioria das peças de madeira ainda são falquejadas a machado ou enxó, os esteios serrados a mão, ou também falquejados. No preenchimento das estruturas, utilizava-se mistura de barro, capim e estrume de gado, sustentado por uma treliça de madeira falquejada, presa entre os módulos do esqueleto. As janelas eram simples, com duas folhas de tábuas. Por segurança contra incêndio e por não haver chaminés, a cozinha era separada por um corredor ao longo da fachada lateral da casa. Numa terceira fase, surge o enxaimel "brasileiro", com chapas de ferro fundido, fogão com chaminé, incorporando-se a cozinha ao corpo da casa. Também ocorre uma adaptação ao clima, com a varanda ao longo da casa, em direção contrária à cozinha. Devido à alta temperatura, o sótão não era utilizado como quarto, e sim como depósito. Nesta fase, toda a madeira utilizada já é cortada por engenhos com serras movidas a rodas d'água, com exceção das peças de difícil transporte, que continuavam sendo falquejadas.

http://www.indaial.com.br/artigos/enxaimel/fotos/enxa8.jpg http://www.pomerodeonline.com.br/port/Hospedagem/mundoant/chale.jpg http://www.mtholyoke.edu/courses/dvanhand/2004deutsch103/fachwerk.gif

fontes e maiores informações:
artigo de VOLKMER, J. A.: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq009/bases/02tex.asp
site do grupo ICOMOS-Brasil: http://br.groups.yahoo.com/group/icomos-brasil/
site sobre enxaimel em Pomerode (cuidado com a musiquinha infernal): http://www.teutonia-latina.net/br/Santa-Catarina/pomerode/enxaimel.htm
site do município de Indaial: http://www.indaial.com.br/artigos/enxaimel/enxaimel1.htm
notícia sobre tombamento de construções em Pomerode: http://an.uol.com.br/2003/abr/17/0ane.htm
site sobre arquitetura de Blumenau: http://www.ufsc.br/Blumenau/arquitet.html
artigo na VITRUVIUS sobre arquitetura de Blumenau: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp192.asp



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